“A natureza não depende dos seres humanos,
os seres humanos dependem da natureza” – Conservation International
“A questão não é: ‘eles podem raciocinar?’
Ou então, ‘eles podem falar?’
Mas, ‘eles podem sofrer?’” – Jeremy Bentham
“É absurdo pensar que uma sociedade que oprime animais
será capaz de se tornar numa sociedade que não oprime pessoas” – Brian A. Dominick
“A libertação animal também é uma libertação humana” – Peter Singer
[EcoDebate] As sociedades humanas já criaram mecanismos para defender os direitos humanos e combater o Classismo,
o Sexismo, o Escravismo, o Racismo, o Xenofobismo e o Homofobismo. Numa
perspectiva antropocêntrica, as discriminações de humanos contra
humanos são condenadas do ponto de vista econômico, social e ético. Mas
os seres humanos continuam não reconhecendo os direitos da natureza e
das demais espécies vivas da Terra. O homo sapiens
se desenvolveu dominando e explorando o meio ambiente e destruindo os
ecossistemas, esquecendo-se que a destruição da natureza é a destruição
do habitat humano.
Os
seres humanos se acham no direito de domesticar, aprisionar, explorar,
segregar, escravizar, discriminar, matar e até torturar outros animais
sencientes fora da raça humana. Os seres humanos criaram uma artificial
diferença entre animais racionais e não racionais, estabelecendo uma
distinção moral entre humanos e não humanos, onde só os primeiros seriam
sujeitos de direito.
Contudo,
esta auto-propalada inteligência não passa de uma ideologia para
defender os privilégios de uma espécie sobre as demais espécies do
Planeta. Na verdade o ser humano é um predador contumaz que não tem uma
relação simbiótica com a natureza, como, por exemplo, as abelhas que
vivificam as flores quando buscam a riqueza do néctar.
As
abelhas ajudam a multiplicar as plantas e a difundir a biodiversidade
na medida em que são os agentes de polinização da flora angiosperma
(angeios = bolsa, e sperma = semente). O aumento das plantas com raiz,
caule, folha, flor, semente e fruto ocorreu com o aumento das abelhas,
borboletas, mariposas, passarinhos, etc. O enxame de insetos e aves
polinizadoras é bom para a flora e os ecossistemas, enquanto que o
enxame humano (e suas atividades antrópicas “extrai-produz-descarta”) é
ruim para os insetos, a flora, as flores e a natureza.
O
antropocentrismo acha incorreto usar a expressão “enxame humano” ou o
termo “somos todos macacos”. A ideologia antropocêntrica considera que é
um insulto comparar o ser humano aos animais. Quando ficam indignados
com alguma injustiça, dizem: “Nem animal a gente trata assim”. Como se
fosse justo tratar os animais com a crueldade que deveria ser banida do
reino humano.
Dieta Vegetariana
Quase
70 bilhões de animais terrestres são mortos todos os anos para
alimentar os cerca de 7 bilhões de seres humanos. São cerca de 10
animais mortos, anualmente, para cada pessoa. Segundo a FAO, a criação
de animais domesticados, no mundo, a serviço do apetite do homo sapiens,
atinge cerca de 200 milhões de búfalos, 800 milhões de cabritos, 1
bilhão de porcos, 1,1 bilhão de ovelhas, 1,45 bilhão de bovinos e
dezenas de bilhões de galinhas. A pecuária ocupa 26% da superfície
terrestre global. O Brasil tem o maior rebanho bovino do mundo, com
cerca de 215 milhões de cabeças (mais gado do que gente).
O
impacto da população de ruminantes, especialmente bovinos, sobre o meio
ambiente é muito grande. O metano liberado a partir dos sistemas
digestivos dos animais criados pela pecuária é responsável por 14,5% de
todos os gases de efeito estufa emitidos pelas atividades antrópicas. O
gás metano é cerca de 30 vezes mais potente que o efeito do dióxido de
carbono no aquecimento do planeta (um boi gera 58 quilos de metano por
ano). Portanto, a escravidão animal é ruim para a espécie escravizada e
para a espécie escravocrata.
O
consumo anual médio per capita de carne no mundo desenvolvido foi de
cerca de 80 quilos em 2012 e está projetado para crescer para 89 quilos
em 2030. Enquanto isso, no mundo em desenvolvimento foi de 32 quilos em
2012, projetado para crescer para 37 em 2030. Se gasta 15 mil litros de
água para produzir um quilo de carne. Além de ser ruim para o meio
ambiente, o consumo de carne também afeta a saúde humana. Segundo um
estudo feito na Universidade da Califórnia, publicado no periódico JAMA
Internal Medicine, as pessoas que não comem carne têm mais chances de
ter uma vida longa, se comparadas com aquelas que têm uma dieta
“carnívora”. Portanto, evitar a matança animal pode melhorar a qualidade
de vida humana.
Sidarta
Gautama (nascido por volta de 563 a.C. a 483 a.C.), o Buda, era
vegetariano e defendia o direito dos animais. Pitágoras também era
vegetariano. Vem de longe a defesa de uma dieta livre de carnes e o
respeito aos animais. O vegetarianismo tem sua origem na tradição
filosófica indiana, que chega ao Ocidente na doutrina pitagórica. Nas
raízes indianas e pitagóricas do vegetarianismo, são ligadas a noção de
pureza e contaminação, não correspondendo com a visão de respeito aos
animais, como na doutrina budista e outras mais recentes. Por exemplo,
eram também vegetarianos: Mahavira, Asoka, Empédocles, Plutarco,
Porfírio, Ovídio, São Ricardo de Wyche, Leonardo da Vinci, John Ray,
Thomas Tryon, Bernard Mandeville, Alexander Pope, Isaac Newton,
Voltaire, George Cheyne, David Hartley, Oliver Goldsmith, Joseph Ritson,
Lewis Gompertz, Ellen White, Johnny Appleseed, Percy Bysshe Shelley,
Alphonse de Lamartine, Amos Bronson Alcott, William Alcott, Gustav
Struve, Georg Friedrich Daumer, Richard Wagner, Liev Tolstoi,George
Bernard Shaw, Romain Rolland, Élisée Reclus, Mahatma Gandhi, Franz
Kafka, Isaac Bashevis Singer, Albert Einstein, entre muitos outros
(Wikipedia).
Libertação animal
Peter
Singer, no livro Libertação animal (1975) define o especismo como a
discriminação contra certos seres baseada apenas no fato de estes
pertencerem a uma dada espécie. O autor teve uma influência fundamental
no movimento de Libertação Animal. Ele considera que todos os seres que
são capazes de sofrer devem ter seus interesses considerados de forma
igualitária e conclui que o uso de animais – nos moldes atuais – para
alimentação é injustificável, já que cria sofrimento desnecessário.
Assim sendo, ele considera que o vegetarianismo é a única dieta
aceitável. Singer condena também a vivissecção, apesar de acreditar que
algumas experiências com animais poderão ser realizadas se o benefício
(por exemplo, avanços em tratamentos médicos, etc.) for maior que o mal
causado aos animais em causa (Wikipedia).
Segundo
Rodrigo Andrade, O abolicionismo animal é uma corrente de pensamento e
militância que pretende livrar a fauna da escravidão. O que significa
isso? Não comer nenhum produto de origem animal, não usar animais para
nossa diversão nem para nossas pesquisas científicas, nem para
vestimenta. É contra os zoológicos, as corridas de cavalo, os rodeios,
as touradas, etc. O Abolicionismo é uma abordagem dos direitos animais
que: 1) Requer a abolição da exploração animal e rejeita a regulação da
exploração animal; 2) É baseada apenas na senciência animal e em nenhuma
outra característica cognitiva; 3) Considera o veganismo a base moral
da posição dos direitos animais e; 4) Rejeita toda violência e promove
um ativismo em forma de educação vegana não violenta e criativa.
Ainda
segundo Rodrigo Andrade o que o ser humano fez de ruim com escravos
humanos não chega perto dos horrores do que se faz com os animais.
Escravos faziam trabalhos forçados, apanhavam quando desobedeciam
ordens. Isso já é ruim o suficiente. Mas esses homens não eram
brutalmente mortos para servir de alimento. Não eram obrigados a se
exibir em rodeios para bêbados sádicos. Não passavam suas vidas em
gaiolas sendo inoculados com doenças para pesquisas médicas. Não tinham a
pele arrancada ainda em vida para virar um casaco. Escravidão é uma
palavra fraca para o que se faz aos animais. Eles estão um degrau
abaixo: são objetos.
A caça e a matança de animais selvagens
A
humanidade está provocando a 6ª extinção em massa das espécies, gerando
um grande desequilíbrio entre as áreas ecúmenas e anecúmenas no mundo.
Milhares de elefantes são mortos cruelmente todos os anos para que
alguns poucos humanos possam lucrar com o comércio de marfim e outros
tantos humanos possam lucrar com a compra e venda de joias de marfim e
objetos de decoração fabricados a partir das presas e do sacrifício de
um dos animais mais fantásticos do Planeta. Centenas de rinocerontes são
abatidos covardemente todos os anos para alimentar o comércio apenas do
chifre, cujo preço no mercado negro vale mais que o ouro, chegando a
50.000 euros por quilo. Os criminosos cortam os chifres dos animais e
vendem como remédio para diversos tipos de doença ou como porções
afrodisíacas na China e no Sudeste Asiático.
A
caça de animais selvagens é uma injustiça e uma covardia. O caso de
maior repercussão ocorreu em julho de 2015, quando o leão Cecil, famoso
espécime do Zimbábue, foi ilegalmente atraído para fora de uma área de
proteção e morto simplesmente por diversão sádica. Estima-se que foi
pago US$55 mil pela cabeça do animal, que tinha 13 anos, e era famoso
por ficar tranquilo em fotos. Cecil usava um rastreador GPS em uma
coleira para que caçadores não pudessem afastá-lo da área de proteção –
mas o equipamento foi retirado justamente pelos seus assassinos. Ele foi
atingido, primeiramente, por uma flexa, caçado durante uma perseguição
de 40 horas e, por fim, morto com um disparo de arma. O responsável por
este crime cruel é um dentista de Minessota chamado Walter Palmer. O
americano é um caçador que está sendo procurado – mas, na internet, está
sendo objeto de críticas e tratado como um representante do que há de
pior na raça humana.
A
morte do leão Cecil é um ato de barbárie que se soma a morte de tantos
outros leões, tigres, elefantes, rinocerontes, gorilas, etc. Enquanto
cresce a população humana, diminui a população animal, com uma redução
drástica da biodiversidade. Desde que foi noticiado o assassinato de
Cecil, ocorreu também a morte de um dos últimos cinco
rinocerontes-brancos do norte existentes no planeta, restando portanto
apenas quatro antes da extinção definitiva dessa subespécie. Assim, as
únicas populações animais que crescem são aquelas confinadas e
escravizadas com a finalidade de ir para os abatedouros, para enriquecer
de proteínas a dieta humana.
Não há imperativo ético que justifique a crueldade contra os animais. Toda construção ideativa que tenta
estabelecer uma distinção moral entre animais humanos e não humanos e
dar direitos somente a uma espécie senciente, cai na armadilha da
discriminação de espécie, o que é designado por especismo. A
racionalidade que justifica o especismo é também a que justifica a
discriminação e a opressão de grupos sociais minoritários ou
considerados inferiores. A ideologia que legitima o Especismo é a mesma
que ratifica o Classismo, o Sexismo, o Escravismo, o Racismo, o Xenofobismo e o Homofobismo.
Um
trabalhador que reivindica direitos trabalhistas, uma mulher que
protesta contra a violência de gênero, um escravo que busca a carta de
alforria, raças discriminadas que lutam contra o racismo, migrantes que
protestam contra a xenofobia, homossexuais e transgêneros que reclamam
da homofobia – todos juntos – deveriam unir forças na mobilização contra
o especismo. A libertação animal também a libertação das minorias e das
maiorias humanas. Todas as pessoas, em suas diferentes identidades e
inserções sociais, deveriam participar das atividades, no dia 22 de
agosto, do DIA MUNDIAL CONTRA O ESPECÍSMO.
Referência:
ALVES, JED. Demografia, Democracia e Direitos Humanos, Texto Discussão n. 18, ENCE/IBGE, RJ, 2005